Data de validade

14 agosto 2017 —


Quem sabe eu tenha elouquecido mesmo. Depois de algumas explosões de raiva e um ataque de pânico, certas coisas acabam mudando em você. Quando o simples nó na garganta parece mais uma bola de chumbo derretendo e você não consegue mais respirar, é inevitável perceber que seu funcionamento geral não está certo.

Tem coisas que precisam mudar, e é urgente. Não é hora de planejar uma nova vida, mas de realmente começar a mexer alguns pauzinhos pra que seja possível sair dessa. Podem ser coisas pequenas, só precisam ter significado. Quem sabe, pra uns, nada disso faria sentido. Pra mim, qualquer outra coisa estaria fora de cogitação.

Todas as noites, na volta para casa, meu corpo se contrai em posição de defesa, ainda que não haja qualquer sinal de perigo. No ônibus, minha mente insiste em visitar ideais autodestrutivas e a sensação é de que nada na vida vale a pena.

A senhora sentada ao meu lado fala com sua netinha no telefone e eu penso sobre o quão forte ela é pra ter suportado todas as dores e decepções que ela passou, e que agora era recompensada com o prazer de ter uma neta que ama e a faz muito feliz.

Ao chegar em casa, encontro meus gatos e comida na mesa. Ah, a vida vale a pena sim. E como vale!

É difícil, porque as coisas boas não anulam as ruins. Mas o contrário também não é verdadeiro. Sempre dizem que o equilíbrio é a chave e talvez seja isso mesmo. Não que a vida tenha o dever de nos recompensar por cada lágrima derramada, mas acredito que, se realmente procurarmos, vamos encontrar algo porquê lutar.

Não acho que sofrimento é opcional, como muitos dizem. O sofrimento tá aí e é pra ser sentido, mas também tem data de validade. E eu resolvi jogar fora aquilo que expirou na minha vida.

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